Variação Linguística


Modo de falar do brasileiro

Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos.

1) Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita;

2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo;

3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões.


Acesse a reportagem completa aqui.


Por Aline Barbosa

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Educação em Língua Materna


    O livro Educação em Língua Materna, de Stella Maris Bortoni (atualmente professora titular na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília), é excelente para se compreender melhor o português brasileiro, ou como a própria autora afirma "os portugueses brasileiros", e suas variações. 
A obra em questão trata de educação lingüística, trabalhando o português brasileiro em sala de aula, tendo em vista suas variações e limites. A autora utiliza uma abordagem teórica simples e uma linguagem coloquial, fazendo referência a suas pesquisas e usando de recursos que tornam a leitura do livro prazerosa, como trechos de história em quadrinhos, diálogos em sala. Essa obra é um ponto de partida para aqueles que estão iniciando o estudo na área de sociolingüística e na formação de futuros docentes , pois ela trata de forma simples este assunto, mas fornece uma boa sustentação teórica com elementos da sociolingüística variacionista, da sociolingüística interacional e da etnografia da comunicação. 
O livro destina-se principalmente a professores de ensino fundamental e a estudantes dos cursos de Pedagogia. O livro compõe-se de sete capítulos, compostos de exemplificações, pesquisas e momentos de reflexão sobre o assunto. A autora também propõe atividades que podem ser feitas em sala de aula.Desconstrói o a idéia de que a  língua é padronizada, demasiadamente rígida e imutável. O livro possui uma linguagem bastante acessível e clara. Indico para todos aqueles que se interessam pelo assunto e procuram uma introdução sobre   a sociolingüística, e principalmente para os professores e futuros docentes que trabalham com a língua materna em sala. E para aqueles que estão acompanhando a polêmica do livro do MEC, esse livro pode esclarecer muitas dúvidas. Vale a pena ler!
Por Gabriela Freitas.
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Fatores das variações linguística
Em todo grupo de fala há variações linguísticas, que estão relacionadas aos papéis sociais que cada um assume e por sua vez são culturalmete condicionados. Isso ocorre por diversos fatores:
  1. Grupos etários: as palavras variam ao longo das gerações
  2. Gênero: homens costumam utilizar mais gírias, palavrões; já as mulheres diminutivos, marcadores conversacionais como o “né!”.
  3. Status econômico: desigualdades econômicas refletem nas diferenças sociolinguísticas.
  4. Grau de escolarização
  5. Mercado de trabalho: atividades e funções que um indivíduo desempenha.
  6. Rede Social: cada um comporta-se de forma compatível com aqueles que convive e interage na rede social.
       Para que um indivíduo consiga viabilizar seu ato de fala, ele precisa utilizar os recursos comunicaticos (gramaticais, vocabulário, etc) os quais são adquiridos ao decorrer das experiências de um falante com a comunidade, e principalmente com a escola.
Por Gabriela Freitas.
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A língua não é imutável
 Alguns exemplos de variações que fazem parte do nosso cotidiano: 

Tá (está); Cê (você); Comê (comer); Tava (estava); Amô (amor); Bejo (beijo); Num é (não é);
 
      Hoje percebemos que a língua tem sido utilizada de forma bem particular e diferente da lingua tida como "padrão" e correta, nas redes socias (msn, twitter, orkut, facebook). E cada vez mais essa forma de se utilzar a língua tem aparecido no nosso cotidiano, incluive  nas redações de muitos alunos (algo que devemos ter um maior cuidado e alerta, principalmente os educadores).
        Há de se afirmar que essa forma de comunicação também faz parte da linguagem.  Mas até que ponto o uso desse tipo de linguagem pode influenciar as nossas vidas e o nosso português, seja de forma positiva ou negativa? O que se pode afirmar é que a língua não é imutável, nem demasiadamente rígida. Então será que há chances de alguns anos vermos no nosso dicionário vc ao invês de você? Algo a se penser...






Por Gabriela Freitas.
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As mudanças das línguas com o tempo



A partir de uma análise do texto "As Línguas mudam com o passar do tempo" (FARACO, C.A. Linguistica Histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. São Paulo: Atoca, 1991) podemos identificar com maior clareza essa mudança da lingua no tempo.
Apesar de termos uma falsa impressão que a mudança não esta acontecendo, ela acontece, mas de forma lenta. É possível que palavras mudem e que novas palavras sejam criadas. Quando contrastamos pessoas de idades diferentes, por exemplo, um senhor de mais ou menos 75 anos e um jovem de uns 18 anos, é mais fácil de identificarmos as mudanças que ocorrem na língua. Os dois indivíduos falam o mesmo idioma, entretanto de uma forma diferente. Podemos notar essa diferença com a letra “L” no fim de algumas palavras: mal, papel. Uma pessoa mais nova, geralmente do meio urbano, tende a pronunciar o “L” no final da palavra com o som da semivogal [w] e uma pessoa mais idosa, geralmente, pronuncia um “L” como lateral, semelhante ao primeiro som da palavra lata.
Estudos mostram que a implementação das inovações lingüísticas é feita primordialmente por jovens e pessoas de classes econômicas intermediárias. Ressaltamos em nossa análise que não é diferença de fala entre gerações ou entre grupos socioeconômicos que pode indicar mudança. O texto evidencia isso citando o seguinte dizer: em lingüística histórica nem toda variação implica mudança, mas em toda mudança pressupõe variação. Existe também um contraste muito grande na língua escrita e na falada indicando essa variação. A primeira é mais conservadora e a partir desse conservadorismo percebemos a inovação da fala. Quando vamos transcrever algumas sentenças por exemplo, percebemos que falamos de um jeito e temos que escrever de outro jeito. As atividades escritas são, de fato, mais formais e isso explica o cuidado maior com o uso de palavras. Entretanto algumas palavras ou expressões são aceitas na escrita com o passar do tempo, outras continuam sendo estigmatizadas, muitas vezes por serem marcas identificadoras de uma variedade sem prestígio social, ou seja, utilizada por grupos periféricos.
É interessante notar que muitas dessas inovações na língua são vistas como negativas, visto que, geralmente, os implementadores de mudanças têm baixo prestigio social e sua fala costuma ser marcada de forma negativa pelos grupos mais privilegiados econômica, social e culturalmente. Somente quando existe a quebra desse estigma é que as formas inovadoras adquirem condições de se expandir. Devemos olhar a língua como uma realidade heterogênea e dessa heterogeneidade que emerge a mudança. Essa ultima pode ser estrutural, semântica e pragmática. Na mudança estrutural podemos citar o exemplo do latim que independia da estrutura das palavras devido sua definição sintática na própria palavra, mas na passagem para as línguas românicas suas flexões de caso foram perdidas e assim temos que indicar uma estrutura na frase para reconhecer o sujeito e o objeto como temos na frase seguinte: Maria ama João. A mudança semântica trata da significação e a pragmática o uso dos elementos lingüísticos.
A lingüística tem mostrado que não existe língua homogênea, elas se diferenciam ate mesmo em um mesmo país. Existe um conjunto de variedades que são resultados das peculiaridades das experiências históricas e socioculturais do grupo que a língua.
Por Pedro Parreira.
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A sociolinguística na sala de aula

Um desafio para o educador
Como trabalhar essas variações e o preconceito linguístico em sala?

Toda essa diversidade cultural brasileira e consequentemente a grande variação linguística existente podem gerar conflitos na sala de aula e no cotidiano dos alunos.

Essas são algumas dicas apresentadas no livro “Educação em Língua Materna” (Stella Maris Bortoni) para trabalhar com a sociolinguística em sala:

 Primeiramente, é necessário entender que é pedagogicamente incorreto utilizar a incidência do “erro” do educando como uma oportunidade de humilhá-lo. E para conseguir lidar com essas situações é necessário utilizar-se da Pedagogia Sensível, que procura conscientizar o aluno para as diferenças nas variedade linguísticas, sem prejudicar seu processo de ensino/aprendizagem.
Diante de uma realização da regra não padrão, o professor deve:
  1. Identificar a diferença
  2. Conscientizar sobre esta diferença.
Quando o modo de falar da criança não é um campo de conflito, ele torna-se mais aberta à aquisição de estilos mais monitorados ( mais próximo à regra padrão da língua).

Dica: O personagem Chico Bento da Turma da Mônica é um símbolo do multiculturalismo que pode ser um ótimo instrumento para ser utilizado em sala com o intuito de dispertar a consciência da diversidade linguística, combatendo também o preconceito linguístico.
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A escola possui um papel importantíssimo na formação do aluno e principalmente da sua linguagem. Ela possui a função de ampliar a competência comunicativa de cada aluno, através de um ensino sistematizado, proporcionando a eles a capacidade de se comunicarem com adequação e segurança nas mais diversas situações e contextos sociais que estejam inseridos.
        Mas é necessário ter muito cuidado ao se trabalhar com a sociolinguística em sala, para não perder o sentido real da educação: formar indivíduos capazes de participarem de forma ativa na sociedade em que vivem, com competência de se comunicarem de forma adequada aos diversos meios sociais (grupo de amigos, mercado de trabalho, família, escola/faculdade).

Encontre mais dicas e orientações para trabalhar com a sociolinguística em sala no Portal do Professor no site do Ministério da Educação: 

Por Gabriela Freitas.
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